Muitas pessoas rezam e não obtêm o esperado, porque não pedem como convém: Petitis et non accipitis, eo quod male petatis, “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”. (Tg 4,3) Para rezar bem é preciso, em primeiro lugar, a atenção, pois o distraído não agrada a Deus, porque divide sua capacidade cognoscitiva com coisas corriqueiras e com isso não eleva a mente devidamente aos céus.
Em segundo lugar, a humildade. Deus resiste aos soberbos, e não lhes atende aos pedidos; mas dá a sua graça aos humildes, (Tg 4,6) e não deixa os seus pedidos sem os deferir. “A oração do que se humilha, penetrará as nuvens e não se retirará enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos.”(Eclo 35, 21) E isto acontece, ainda que a pessoa tenha sido anteriormente pecadora, porquanto Deus não desprezará um coração contrito e humilhado. (Sl 50, 19)
Em terceiro lugar é preciso a confiança, que nos faz esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima. Nullus speravit in Domine et confusus est, (Eclo 2, 11) – “Ninguém esperou no Senhor e ficou confundido”. Ensina-nos Jesus Cristo mesmo que, quando tenhamos alguma graça a pedir, não O chamemos com outro nome além do de Pai: Pater noster, a fim de que oremos com toda a confiança que é própria do filho para com o pai. O que pede com confiança obtém tudo. “Eu vos digo”, assim fala o Senhor, “que todas as coisas que pedirdes orando, crede que as recebereis, e elas vos acudirão” (Mc 11, 24)
E quem pode recear, pergunta Santo Agostinho, ser enganado no que foi prometido pela própria Verdade, que é Deus? A Escritura nos afiança que Deus não é como os homens, que prometem e depois faltam à palavra, ou porque mentem quando prometem, ou porque mudam de vontade. Dixit ergo, et non faciet?(Nm 23, 19) Santo Agostinho ainda acrescenta: Se o Senhor não nos quisesse conceder as graças, para que nos havia de exortar continuamente a pedir-lhas? Prometendo, contraiu a obrigação de nos dar as graças que Lhe suplicamos. Promittendo, debitorem se fecit.
O que importa sobretudo, é ter perseverança na oração. Diz Cornélio a Lápide que o Senhor “quer que sejamos perseverantes na oração até a importunação”. É o que significam os textos seguintes da Escritura: É preciso orar sempre; (Lc 18, 1) Vigiai sempre, orando (Lc 21, 16); Orai sem cessar. (1Ts 5, 17) É o que significam ainda estas repetições: Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei à porta e ela se vos abrirá. (Lc 11, 9) Bastava ter dito: pedi, petite; mas o Senhor nos quis fazer compreender que devemos seguir o exemplo dos mendigos, que nunca deixam de pedir, de insistir e de bater à porta, enquanto não tenham recebido alguma esmola.
A perseverança final, especialmente, é uma graça que se não obtém sem oração contínua. Nós não podemos merecer a perseverança, mas merecemo-la de algum modo, diz Santo Agostinho, por meio das orações. Rezemos, pois, sempre, e não deixemos de rezar, se nos quisermos salvar. Os confessores e os pregadores nunca deixem de exortar à oração, se quiserem que as almas se salvem; porquanto o que reza certamente se salva, e o que não reza certamente se condena.
Meu Deus, tenho confiança de que já me perdoastes; mas meus inimigos não deixarão de me combater até à morte. Se não me socorrerdes, sucumbirei de novo. Suplico-Vos, pelos merecimentos de Jesus Cristo, que me concedais a santa perseverança. Não permitais que me afaste de Vós. Peço-Vos o mesmo favor para todos os que estão atualmente na vossa graça. Confiado em vossas promessas, estou certo de que me dareis a perseverança, se continuar a pedi-la. Receio, porém, que nas tentações deixe de recorrer a Vós, e assim torne a cair em pecado. Peço-Vos, pois, a graça de nunca deixar de rezar. Fazei que nas ocasiões perigosas me recomende sempre a Vós, e chame em meu auxílio os santíssimos Nomes de Jesus e Maria. É o que estou resolvido a fazer sempre, e espero fazê-lo pela vossa graça. Atendei-me pelo amor de Jesus Cristo. – Ó Maria, minha Mãe, fazei que nos perigos de perder o meu Deus, sempre recorra a Vós e a vosso Filho.
Fonte: Pe. Thiago Maria Cristini, C. SS. R., “Meditações para todos os dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja”, Herder e Cia., tomo II, págs. 293 – 295, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921.
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