A bela lenda natalina do Menino do Tambor que publicamos nesta pagina, teve sua versão musical escrita, a partir de uma melodia tcheca, pela compositora norte-americana Katherine Davis, em 1941. Apresentamos também a versão da melodia “O Menino do Tambor”, com letra em língua espanhola, executada pelo coro dos Arautos do Evangelho.
O menino do tambor
Ir. Michelle Viccola, EP.
Há mais de dois mil anos, nos imensos e longínquos areais da Arábia, onde as montanhas não têm nome, pois o vento as faz e desfaz por sua força mutável e dominadora, vivia um menino muito pobre. Órfão de mãe desde muito pequeno, seu pai era o guardião de um oásis, afastado das rotas mais frequentadas, mas famoso entre os viajantes por sua água abundante e cristalina.
Muitas vezes pensou o zeloso pai em aliviar a solidão de seu filho dando-lhe de presente algum brinquedo. Mas, nunca teve coragem de perguntar aos mercadores o preço, certamente maior do que podia pagar com as poucas moedas que possuía.
Decidiu então confeccionar para o menino um pequeno tambor. Tomou um velho barrilzinho, retirou- lhe as tampas, envernizou-o com óleo de palma e estendeu cuidadosamente sobre seus extremos duas peles de cabra fortemente esticadas por tendões de carneiro.
A preparação do instrumento levou-lhe semanas de trabalho. Teve de fazê-lo e refazê-lo várias vezes, até que ficou bom. Mas o esforço valeu a pena: o menino recebeu o tamborzinho com essa capacidade de alma que têm os inocentes de alegrar- se com um único presente, o que vale mais que receber outros mil! Tocava- o constantemente, acompanhando
músicas que ele mesmo compunha. Ah… e como eram belas! Tão belas que em todo o deserto, do mar às montanhas, era ele conhecido sob o nome de “o menino do tambor”.
Numa fria noite de inverno, a monótona rotina daquele oásis foi quebrada por um fenômeno surpreendente: aparecera no céu, ao oriente, uma estrela que brilhava mais do que todas as outras e parecia se deslocar lentamente em direção ao ocidente. Tão luminosa era que permanecia visível dia e noite, aproximando-se deles sempre mais. Perante tão extraordinário prodígio, o pai chegou a sentir algum receio, mas seu filho logo o tranquilizara: aquele astro era belo demais para ser um mau presságio. Parecia, pelo contrário, anunciar um acontecimento grandioso e feliz.
Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o menino divisou no horizonte uma longa fila de homens e cavalgaduras. Não se tratava de uma caravana comum. O número de bestas de carga era incontável. Portavam fardos magníficos! E até o menor dos servos que ali estava, vestia e se comportava com a dignidade de um fidalgo.
No fim do longo cortejo, sentados no alto de vigorosos dromedários, vinham três nobres senhores, vestidos com trajes coloridos e turbantes de seda. Um deles era um ancião de longa barba, outro um homem maduro de vivos olhos e ruivos cabelos, o terceiro um vigoroso árabe de pele escura. Dir-se-ia que os três eram reis.
O menino foi correndo pegar seu tambor, tocou-o e cantou em honra daqueles admiráveis viajantes. Quando terminou, o venerável ancião da barba longa inclinou-se em direção a ele, dizendo- lhe comprazido:
– Meu bom menino, que bela é tua música! Não haverá abrigo em tua casa para uma caravana que chega fatigada de uma longa jornada?
Fazendo uma profunda reverência, respondeu-lhe:
– Sim, senhor! Meu pai é guardião deste poço, e sempre dá pousada para homens de bem.
Pai e filho aplicaram-se em receber aqueles senhores com a mais esmerada hospitalidade. Serviram-lhes suas melhores tâmaras e leite de cabra recém ordenhado. Deram de beber aos camelos, encheram os odres com água e hospedaram-nos o melhor que puderam na choupana de taipa e folhas de palmeira que haviam construído a modo de pousada.
À noite, quando todos já se recolhiam, o menino aproximou-se curioso do ancião que tão bondosamente o tratara e perguntou-lhe singelamente:
– Senhor, perdoe meu atrevimento, mas a que se deve a presença de tão ilustres pessoas nestas desoladas paragens?
O bom homem sorriu e explicou-lhe que vinham de muito longe. Lá em suas distantes terras souberam, por sonhos, que uma estrela haveria de guiá-los até o local onde nasceria o Messias, o enviado de Deus, anunciado pelos profetas. Ao ver aparecer aquele astro desconhecido, tomaram ouro, incenso e mirra e puseram-se a caminho. Há meses o vinham seguindo e uma especial alegria de coração dizia-lhes estarem perto de seu destino.
O “menino do tambor” nunca ouvira falar de coisas semelhantes. Ele, que não era um sábio como os ilustres viajantes, ficou emocionado ao ouvir falar do Messias, do “anunciado pelos profetas”. Sentiu um irresistível desejo de ir conhecê-Lo.
No dia seguinte, acordou bem cedo. Despediu-se do velho pai e juntou-se à caravana. Tinha procurado no oásis com afinco algum presente que levar para o Messias, mas nada encontrou digno dele. E pensou: “irei com meu tambor, e quando estiver frente a ele lhe direi: Senhor, sou pobre e não tenho nada para oferecer-vos. Mas dizem que a minha música é bela e traz alegria. Vim tocar para vós a mais linda das minhas canções!”.
Alguns dias depois, após contornar o Mar Morto e remontar as íngremes encostas que dele conduzem à Judeia, a caravana fazia sua entrada em Belém de Judá. Bem em cima de uma humilde casa, a estrela se detivera e os três nobres senhores ali entraram.
Como se já estivesse à espera, encontrava- se um resplandecente Menino sentado majestosamente, como num trono, no colo de uma bela senhora. Logo compreenderam ser aquele o Messias anunciado pelos profetas. Prosternaram-se, adorando-O, e Lhe ofereceram os valiosos presentes que traziam: ouro, incenso e mirra.
Mas eis que, de repente, ouve-se o rufar de um tamborzinho e uma harmoniosa voz infantil, quebrando a solenidade da cena. Era o “menino do tambor” que cantava para o Salvador a mais bela de suas melodias. Ao ouvi-lo, o rosto do Menino Jesus iluminou- se com um belo sorriso, agradado com a candura dessa alma inocente. Talvez tenha sido ele, antes mesmo de São João Batista, o primeiro amigo do Menino Jesus!
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96, p. 46-47)
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