O nascimento do Menino Jesus em Belém, tal como figura em vitrais da Catedral de Notre Dame, de Paris, e de outras Catedrais europeias, talvez possa surpreender o homem de nossos dias. Isso porque o Presépio habitualmente é hoje apresentado em sua versão histórica, no cenário de uma gruta na qual se alojou a Sagrada Família. Entretanto, além dessa verdadeira e edificante visualização, ao longo dos séculos a Igreja acolheu outras representações artísticas do presépio, concebidas pelos teólogos e expressas em esculturas, pinturas ou vitrais pelo gênio dos artistas.
Concretamente, nesses vitrais medievais, a Santíssima Virgem se apresenta recostada num régio leito, diante de um pequeno altar, sobre o qual repousa seu Divino Infante, enrolado em faixas. São José parece se refazer do cansaço, e apesar da presença do boi e do burro próximos ao altar, o cenário evoca o ambiente de um palácio.
O Menino Jesus é, pois, cercado dos sinais de sua missão Redentora, como uma vítima que será sacrificada num altar, a Cruz. Aparece igualmente como Redentor e Rei do Universo. Quando os Anjos desceram a entoar seus hinos de glória, ou quando ali chegaram os Reis Magos, essa gruta, aos olhos dos homens de Fé, poderia ser considerada uma sala do mais esplendoroso dos palácios.
Convém recordar que durante a sua Transfiguração no monte Tabor, o Divino Salvador permitiu aos três Apóstolos que o acompanhavam uma visão mais elevada de sua natureza divina e do alcance de sua missão.
Nessa perspectiva, ao meditar nos ensinamentos, fatos históricos e parábolas contidas nas páginas do Evangelho, o fiel pode se empenhar em elevar-se em sua compreensão, como se subisse degraus de uma escada, do plano concreto ao simbólico. Na linguagem teológica denomina-se anagoge esse esforço. Historiadores e estudiosos das Catedrais góticas afirmam que “nelas tudo é anagógico”, isto é, convida para o alto.
Em sua obra, “São José, quem o conhece?”, Mons. João Clá Dias (p. 225) apresenta uma meditação altamente ilustrativa do mistério do nascimento do Filho de Deus, do qual extraímos, o seguinte trecho:
“O Menino Deus, envolto numa nuvem luminosa, surgiu diante de Nossa Senhora. Ela, elevando um pouco os braços, tomou seu Filho e O abraçou. O parto, portanto, não teve nada de humano, nem supôs qualquer esforço de sua parte.
Toda criança chora quando nasce. O Santo Infante estava com fome e frio, mas não chorava. Quando abriu os olhos, eles se incidiram sobre sua Mãe Santíssima, a quem fitava com olhar verdadeiramente divino e sorria. Que cruzar de olhares! Troca mais bela que essa só o ultimo olhar na Cruz. Dois olhares extremos: o do nascimento e o da morte.
São Gabriel, que estava ao lado de Nossa Senhora e em frente a São José, segurou as faixas com as quais Ela envolveu o Menino Jesus (cf. Lc 2, 7). Logo depois, sua Mãe alimentou-O.”
Pe. Colombo Nunes Pires, EP.
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