Quando imaginamos a chamada “Idade Média”, logo nos vem à mente a figura de antigos castelos de pedra, pessoas rudes, grosseiras e ignorantes, sem cultura, vivendo na sujeira, incapazes de admirar as belezas da natureza que o homem civilizado do século XXI conhece… Mas será que de fato isso é uma verdade?
Pelos frutos conhecereis a árvore (Cf. Mt 7, 15-20), sendo assim afirmada essa verdade por Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6), passemos os olhos sobre os frutos desse período tão obscuro e desconhecido.
Comecemos por aquilo que está entre os valores de maior importância para o homem moderno: O Estudo. Muitos sabem que o homem medieval não era letrado, mas poucos tem conhecimento de que Carlos Magno, no século IX já havia mandado serem construidas diversas instituições de ensino, e que entre os séculos XI e XII, pela sua elevada qualidade de ensino, foram transformadas em universidades que adquiriram fama em toda a Europa.
A ignorância desses homens também é algo muito discutível, tomemos os castelos e catedrais medievais; como homens sem instrução, com tão poucos recursos e conhecimentos estruturais poderiam construir enormes edifícios de pedra que atravessariam os séculos deixando pasmos engenheiros e construtores de nossos tempos? Seriam eles tão ignorantes mesmo?
Mas em questão, o ponto que mais gostaríamos de frisar aqui é o aspecto contemplativo do homem medieval. As catedrais medievais são de uma beleza incomparável. Qual seria a fonte de inspiração desses arquitetos medievais?
Toda a catedral é tomada por elementos bíblicos e por aspectos da natureza. Por exemplo, o elemento mais básico da catedral, o arco. Todos sabem que após o diluvio, o sinal da aliança que Deus fez com os homens foi o arco-íris, a primeira figura de “arco” que surgiria até então. Podemos supor que o medieval tomou a imagem do “arco” primitivo nas suas construções. Alguém dirá: “Isso é uma conjectura infundada! Outros povos também utilizaram o arco em suas construções!” – Será mesmo uma suposição sem cabimento? “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete – Aristóteles”.
A especialista em arquitetura medieval Jacqueline Jung afirma que os construtores medievais consideravam a Deus como um “Geômetra Divino”, que utilizou de números perfeitos para a obra da Criação. Baseados nisso, procuravam números que consideravam perfeitos para a edificação das suas catedrais. Por exemplo; A Catedral de Amiens, na França. Descobriram que sua altura interna era de 144 pés, unidade de medida utilizada na época pelos construtores. Alguns pesquisadores, ao folhearem as páginas das Sagradas Escrituras descobrem no livro Apocalipse de São João o trecho onde ele mede a altura da Jerusalém Celeste, a Cidade de Deus. Sua medida? 144 côvados de altura! (Cf. Ap.21) Mera coincidência?
“Coincidentemente” essa mesma Igreja, a Arca da Salvação, possui em seu centro uma grande área de 50 pés de largura… A medida da arca de Noé era de 50 côvados de largura…
Coincidência ou não, isso é muito curioso não é mesmo?
Outro aspecto muito interessante a respeito das Catedrais medievais é o fato de ser toda ela adornada por motivos referentes à natureza, como folhagens, flores e até mesmo animais. Os construtores medievais, dotados de grande sensibilidade artística e muito contemplativos da ordem da natureza criada por Deus, fizeram arcos e janelas floridos, capitéis folheados, vitrais multicoloridos, nem mesmo as bases das colunas foram isentas dessa regra…
Vale destacar o belíssimo e célebre fato onde um artista medieval está terminando de esculpir os últimos floreios no alto de uma catedral. Alguém lhe pergunta:
– O que o senhor está fazendo aí em cima?
– Ora senhor! Estou terminando de esculpir esse capitel.
– Mas… Não percebe que ninguém vai ver esses detalhes que está fazendo nesse lugar tão alto? Quem vai reparar nisso?
– Meu caro, acontece que eu não estou fazendo isso para homens verem, mas para os Anjos.
Nosso Senhor nos ensina que as árvores boas produzem frutos bons, e não podem produzir frutos maus. Esse fruto que ela gera, sendo bom, permanece (Cf. Jo 15). Seria possível destacar um fruto tão belo, e que perdurou tanto tempo quanto as catedrais medievais e todo o patrimônio que brotou da civilização cristã?
Podemos perceber que o homem medieval, temente a Deus e seguidor de Sua Lei, era um homem sumamente contemplativo, conhecia e amava a Palavra e as Belezas Divinas, não se importando com as opiniões dos homens, mas com a glória de Deus. Essa sem dúvida era a maior de todas as suas inspirações. Longe de ser rude e grosseiro, o homem medieval era extremamente sensível e admirativo, rico em amor e em fé, qualidades que infelizmente a “ciência do mundo moderno” tem sufocado em tantas pessoas “cultas” de nossos tempos.
Texto: Andrey Santos
Fotos: Arquivo Arautos do Evangelho
Parabéns pela aula! Esses detalhes artísticos são muito interessantes.
Que Nossa Senhora possa incutir em nossas almas este desejo de fazer sempre as coisas para a Glória de Deus, sempre nos elevando a Ele e assim podermos dar bons frutos!
[…] à era medieval, abandonemos por um tempo nossa realidade transpondo as barreiras do tempo, para ver em seu […]