O monge beneditino Guido d’Arezzo, que viveu na Itália do século XI, era um apaixonado pela música, a cujo estudo dedicava uma parcela considerável de seu tempo. Observou ele que uma perfeita escala ascendente era formada por seis notas correspondentes às primeiras sílabas de cada estrofe do seguinte hino a São João Batista:

Utquerant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve polluti

Labii reatum

Purificai, bem-aventurado

João, os nossos lábios polutos

para podermos cantar dignamente

as maravilhas que o Senhor fez em ti.

Esse hino costumava ser entoado pelos coros de meninos, pedindo a proteção para suas cordas vocais. Assim, Guido deu às notas os nomes: UT – RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ, acrescentando posteriormente, para completar a escala, o SI proveniente das primeiras letras de Sancte Ioanne (São João). O DÓ substituiria as iniciais UT, algum tempo depois, pela dificuldade a serem pronunciadas no solfejo.

O mérito do monge não se limitou somente à criação da escala musical. Entre as novidades trazidas pelas dezenas de obras que escreveu, Guido regulou o sistema de linhas e pontos para a escritura de melodias, até então fragmentário e imperfeito, o que multiplicou por dez a velocidade da aprendizagem musical.

Sua fama se estendeu por toda a Cristandade, mas inimigos invejosos tentaram difamar seu nome e sua obra. O Papa da época, João XIX, quis receber explicações a respeito e convocou o religioso a Roma. Guido se deslocou tranquilamente até a Cidade Eterna acompanhado de seu abade e demonstrou à Sua Santidade as múltiplas vantagens do novo método, que permitia ler a música, evitando assim a necessidade de memorizá-la. Alegrou- se muito o Sumo Pontífice com isso, tendo recebido como presente, especialmente elaborado para a ocasião, um antifonário escrito na depurada e inovadora notação “guidoniana”.