Caiu Abel, vitima de seu invejoso e cruel irmão.
Impulsionada pelo instinto materno, Eva tenta reanimar o filho morto, acariciando longamente seu corpo sem vida.
Quando se convenceu de que Abel não despertaria mais, desolada e aflita, caminhou longa jornada, até junto à praia do mar a aí ficou a olhar, assombrada, a extensão das águas até então desconhecidas. Nesse momento, afloraram‑lhe aos olhos suas primeiras lágrimas. Uma após outra rolou silenciosamente pela face e foi cair sobre as pétalas de pequeninas flores, entre os rochedos.
Adão, que havia seguido secretamente sua esposa, observava de longe, sem ser visto. Quando Eva se afastou, Adão foi ver o que havia caído dos olhos chorosos de sua mulher e, encantado com a forma e o esplendor das gotas minúsculas, tomou‑as, escondeu‑as no interior de conchas e enterrou‑as na areia.
Curioso, esperou o mar que Adão adormecesse, ao cair da noite. Fez então um esforço titânico, cresceu, elevou‑se, estendeu ondas de espuma até o tesouro escondido e recolheu feliz as conchas das lágrimas.
Mas as ondas, ao contato das lágrimas, que se fizeram pérolas, também choraram e até hoje se escuta sua voz triste voz junto às praias.
E, quando o homem quer uma pérola, tem de escutar primeiro o pranto das vagas e descer depois à profundidade do mar, onde se ocultam ainda, em modestas conchas, as lágrimas de nossa primeira mãe.
Athalicio Pithan
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